A incrível e óbvia estratégia para reduzir as mortes no trânsito que é ignorada

*com base no texto de David Zipper para o Slate

 

Nas estradas americanas se estima que por ano cerca de 40 mil pessoas morrem, com este número crescendo a cada ano. Em 2022, o Departamento de Transporte dos EUA divulgou uma nova Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária estabelecendo a ambiciosa meta de zero mortes no trânsito.

Uma série de medidas fazem parte dessa estratégia, desde o incentivo a carros mais seguros, até a construção de ruas que pensem na proteção de pedestres e ciclistas. Porém não menciona uma opção que parece óbvia: convencer as pessoas a dirigirem menos e usarem mais o transporte público.

“Não tem sido um foco do Departamento de Transporte Nacional, nem dos Estaduais, e certamente não nas próprias agências de trânsito. Mas como alguém que anda de transporte público todos os dias, sei que tenho menos probabilidade de sofrer um acidente só pelo fato de estar em um trem.” disse Jennifer Homendy, presidente do Conselho Nacional de Segurança em Transportes.

Ian Savage, professor de economia da Universidade de Northwestern, examinou dados de acidentes nos EUA ao longo de uma década, concluindo que 7,3 pessoas morreram em um carro ou caminhão para cada bilhão de milhas de passageiros, 30 vezes mais que em trens urbanos e 66 vezes mais que a bordo de um ônibus.

As razões para isso são várias: trens geralmente tem suas rotas exclusivas, praticamente sem risco de colisões, além de estarem protegidos pela grande quantidade de aço em sua composição. Os ônibus também costumam circular em velocidades mais baixas. Mas o principal motivo talvez esteja por conta dos operadores, obviamente os motoristas de transporte público não são perfeitos, mas são profissionais especializados nisso, diferente da grande quantidade de motoristas de veículos particulares que muitas vezes dirigem bêbados, sem habilitação e nenhum preparo. “Um bêbado decidindo ir embora de metrô depois de curtir a noite – isso é inegavelmente bom”, disse Savage.

Ainda sim, Savage alerta que existem outros riscos, mesmo no uso do transporte público. “Esse tipo de trânsito não é ‘porta-a-porta’, então o que você faz para chegar e sair de uma estação será importante. Se você está em um lugar como Houston, onde para chegar ao transporte público você precisa atravessar uma via arterial de quatro pistas com calçadas deficientes, isso é arriscado.” A infraestrutura para os pedestres e ciclistas também é fundamental para a segurança de todos.

De toda forma, os benefícios do uso do transporte público são inegáveis, e as cidades europeias são a prova: a União Europeia, conhecida por sua forte rede de transporte público, possui uma população um terço maior que a dos EUA, mas menos da metade das mortes no trânsito por ano.

Infelizmente ainda não existe essa percepção geral dos malefícios da predominância dos veículos individuais, seja por parte do poder público, como até mesmo da mídia. “Isso está embutido em como falamos sobre acidentes. Tivemos um acidente de trem da Amtrak aqui, três pessoas morreram e foi notícia internacional. Naquela mesma semana, 10 pessoas morreram nas estradas neste estado – e foi o mesmo número da semana anterior e da semana anterior”, disse Roger Millar, secretário do Departamento de Transportes do Estado de Washington. A prova de como isso altera a percepção das pessoas é um estudo que revelou que após o 11 de Setembro, menos pessoas passaram a viajar de avião, gerando mais 2.000 mortes de trânsito adicionais nos EUA.

Deixar uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *