Por que a segurança no trânsito piora nos EUA, mas não em outros países

*com base na matéria de David Zipper do Boomblerg CityLab

 

Meses atrás, o secretário do Departamento de Transportes dos Estados Unidos, Pete Buttigieg, apresentou um novo programa federal chamado “Momentum”, com o objetivo de ajudar países ao redor do mundo a aprender com as melhores práticas de planejamento e modernização do transporte nos EUA.

O irônico disso, é o fato do sistema de mobilidade norte-americano não ser considerado uma referência mundial em comparação com outros países, que valorizam mais o uso dos transportes públicos e se preocupam mais com a questão climática. Diferente da maioria das nações desenvolvidas, as mortes nas estradas têm aumentado nos EUA. Nas rodovias, 11,4 em cada 100.000 mil americanos morreram, muito mais do que a proporção de outros países como Espanha (2,9), Israel (3,3) e Nova Zelândia (6,3). Em 2021 houve o maior número de pedestres mortos nos EUA em 40 anos, e as mortes de ciclistas aumentaram 44% entre 2010 e 2020.

Esses números não são por acaso e podem ser explicados por decisões tomadas ao longo da história. Em 1979, o risco de morrer em um acidente automobilístico nos EUA era de 23 por 100.000 pessoas, abaixo do da França e só um pouco acima de Alemanha Ocidental e Coréia do Sul. Durante os anos 1970 e 1980, as estradas nos EUA e na Europa Ocidental se tornaram mais seguras com a implementação de cintos de segurança, airbags e mudanças nos design dos veículos, graças ao Programa de Avaliação de Novos Carros lançado pelos americanos e copiados por todo o mundo.

Porém nos últimos 30 anos, os EUA não conseguiram acompanhar a queda na taxa de mortalidade no trânsito na Europa, leste da Ásia e Canadá. Japão e Noruega registraram o menor numero de mortes na estrada desde 1940, enquanto os EUA tiveram 16 anos de alta.

A explicação para todo esse aumento pode ter várias origens, uma delas foi a diferença para o caminho que a Europa escolheu – valorizando cidades com bairros voltados para outros meios de transporte que não carro -, já que o “carrocentrismo” ainda impera no território americano. Canadá e França implementaram câmeras de trânsito que fiscalizam excessos de velocidade e transgressões no trânsito – algo que é proibido em muitos estados dos EUA -, além da melhoria da infraestrutura viária. Os EUA viram um aumento em relação a distância percorrida por pessoa durante a última década, e um declínio no uso de transporte público – mesmo antes da pandemia -, bem diferente do que acontece em outros países.

Existe uma pesquisa relacionando o aumento das mortes de pedestres nos EUA com o crescimento na aquisição de SUVs e picapes. É verdade que esse tipo de veículo tem se tornado popular em todo o mundo, porém em muitos países os veículos maiores possuem impostos mais altos sobre a gasolina e até em relação ao peso, algo que não acontece com os americanos.

Por incrível que pareça, todos esses números parecem não incomodar a todos no país. Em resposta ao artigo de David Zipper comparando os EUA com a França, Jonathan Adkins, diretor executivo da “Associação de Segurança Rodoviária do Governo”, falou sobre a “necessidade de reconhecer uma cultura exclusivamente americana: “O que funciona em Paris, na França, pode não ser viável em Paris, no Tennessee”, disse Adkins. Alguns outros parecem esperar uma solução tecnológica repentina que magicamente acabe com todos os problemas nas estradas. O CEO da Tesla, Elon Musk, por exemplo, disse que tem como meta a redução de 90% nos acidentes por meio do AUTOPILOT, uma invenção da empresa que auxilia os motoristas. Existem dúvidas sobre isso, visto que o recurso da frenagem automática de emergência parece não funcionar de maneira confiável em velocidades acima de 40 milhas por hora ou no escuro, por exemplo, além de outros questionamentos.

Outros países tomaram caminhos diferentes, na Finlândia a preocupação foi fazer com que os carros andem em velocidades mais baixas, alegando que a a tecnologia não teve sucesso no país. Enquanto a França vem restringindo a circulação de veículos nas áreas urbanas.

Algumas soluções parecem bem mais simples do que grandes invenções tecnológicas: construa ruas mais lentas para carros, puna motoristas imprudentes e foque pesadamente na infraestrutura para o transporte público e ciclismo no lugar dos automóveis.

 

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