Já vimos em um outro post sobre como a pandemia acabou influenciando várias cidades a utilizarem os estacionamentos para carros de maneiras diferentes. Lugares que serviam apenas para carros passaram a virar espaços destinados para pessoas permanecerem, com aproveitamento principalmente de bares e restaurantes.
“A chave é pensar na rua não como sendo inerentemente um espaço para estacionar ou dirigir carros, mas como um espaço público que pode ser utilizado para qualquer tipo de atividade pública”, disse Daniel Herriges, editor da Strong Towns. “O propósito da rua é ser um destino, ser um lugar onde as pessoas querem estar”, completou.
Além da questão social envolvendo mobilidade e circulação de pessoas nos espaços públicos, tais iniciativas também possuem respaldo econômico. Um estudo mostrou que a arrecadação gerada pelos espaços abertos foi 49 vezes maior do que o arrecadado pelos estacionamentos.
Esse estudo relatado pelo The Globe and Mail, mostrou que os visitantes gastaram um total de $ 181 milhões nesses espaços abertos nas 13 semanas do verão de 2021. Se essas vagas tivessem permanecido para os estacionamentos, apenas $ 3,7 milhões teriam sido arrecadados durante o mesmo período.
“Este é um exemplo de como um lugar pode ser produtivo quando não nos fixamos no estacionamento”, disse Daniel Herriges. “O espaço público em uma área urbana movimentada é um recurso extremamente importante e escasso, e o estacionamento costuma ser a coisa menos valiosa que podemos fazer com ele. Qualquer cidade pode fazer essa matemática.”
Muitas das administrações dos municípios parecem ainda não terem notado o potencial desse tipo de medida.
“Muitas vezes o estacionamento é oferecido gratuitamente – mesmo em lugares como Nova York, onde a demanda deveria ser muito alta – ou é subestimado em relação ao que os motoristas realmente estariam dispostos a pagar para estacionar. Isso representa um enorme subsídio aos motoristas norte-americanos, com os custos pagos pela sociedade em termos de perda de produtividade e maiores distâncias entre os lugares em que realmente queremos estar”, explicou Herriges.
O estacionamento público gratuito, além dos custos em relação ao asfalto e sua manutenção, também gera prejuízo para a sociedade em relação a perda de um espaço que poderia ser utilizado de uma outra maneira mais produtiva para toda a população.
Algumas cidades de países como Canadá e EUA já perceberam suas exageradas quantidades de estacionamento gratuito e já pensam em medidas para alterar essa situação. Toronto e Edmonton já aboliram completamente a obrigatoriedade de estacionamento para edificações, além de repensar a utilização de estacionamentos nas ruas.
Daniel Herriges resume o que pode ser o caminho a ser seguido pelas nossas cidades:
“Uma superabundância de estacionamento nunca será a solução para o desenvolvimento de um local financeiramente produtivo. Temos que começar a imaginar o estacionamento de nossas cidades de maneira diferente.”