Passe livre para ônibus… E como ficam os trens?

A tarifa zero nas passagens de ônibus é uma grande conquista, mas alguns podem se perguntar: e os outros tipos de transporte? É fato que ônibus são o principal meio de transporte público do Brasil, hoje a malha ferroviária compreendendo metrôs, trens, monotrilhos e VLTs de todas as cidades do país é de apenas 1116 km. Só para efeito de comparação, atualmente o metrô de Xangai sozinho possui cerca de 800 km de extensão.

Cidades ao redor do mundo estão adotando o passe livre em ônibus, como o caso de Washington, capital dos EUA. Apesar da iniciativa ter sido comemorada, alguns especialistas alertam para o efeito que isso pode ocorrer em relação aos outros meios de transporte, especialmente os ferroviários.

A lógica é a seguinte: quando se incentiva as pessoas a abandonarem os trens para entrarem nos ônibus, ambos os transportes vão acabar perdendo. Os ônibus vão ter um aumento no número dos passageiros, sendo necessária um aumento em sua frota, que poderia ter sido utilizada em outras linhas distantes de lugares onde não existem linhas de trens. Já os trens logicamente ficarão no prejuízo com menos passageiros, mesmo possuindo maior capacidade de vagas que os ônibus. Alguns também argumentam que os trens são mais bem rápidos que os ônibus, portanto sua menor utilização é ruim para a fluidez do trânsito na cidade.

Existe também uma questão de disputa de classes. O transporte por ônibus coletivo geralmente é associado com a população de baixa renda, enquanto os de maior renda utilizam mais o transporte ferroviário. Essa realidade talvez seja mais clara em países como os EUA, ou os europeus; no Brasil de modo geral ainda existem aqueles que associam uso de qualquer transporte público no geral como algo para pobres, mas isso é uma discussão mais complexa, que também varia de local.

O fato é que essa reflexão sobre as diferenças e os papéis exercidos por ônibus e trem é interessante e necessária de ser feita. O grande objetivo deveria ser envolver os dois serviços de modo que ambos funcionem bem e juntos. As viagens por trem são mais comuns em distancias e viagens maiores, enquanto os ônibus costumam trabalhar em viagens mais curtas. O desafio é fazê-los funcionarem independente de nossas crenças e pensar na política do passe livre como um todo, e não apenas com os ônibus.

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