Permitir mais estacionamentos ajuda a revitalizar o centro?

Nos últimos dias uma medida da prefeitura da São Paulo tem gerado muita repercussão na mídia e nas redes sociais: por meio da Secretaria de Mobilidade e Trânsito (SMT) e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a atual administração da cidade pretende disponibilizar novas vagas de estacionamento no centro, mais precisamente nas imediações da Praça Ramos de Azevedo.

O que primeiro chamou a atenção da população foi a instalação de faixas guias no meio de calçadões históricos do centro, como se já estivessem fazendo a separação da zona para pedestres e da área para carros, pouco depois repercutiu a ideia de que a prefeitura realmente estava planejando inserir vagas para carros nessas áreas. A notícia logicamente causou grande repercussão, especialmente entre grupos ligados ao urbanismo e que trabalham com causas em defesa da mobilidade a pé e por meio do transporte público.

Não tardou muito e a prefeitura lançou uma nota tentando amenizar a situação, argumentando que as vagas criadas não seriam para o horário comercial, e sim no período das 18h e 2h, com o objetivo de disponibilizar o acesso ao público para a programação noturna do Theatro Municipal, assim promovendo movimento e contribuindo com uma certa revitalização do centro da cidade.

Olhando de maneira bastante rasa a justificativa da prefeitura pode parecer fazer algum sentido, afinal mais vagas de estacionamento podem facilitar o acesso para a população frequentar o Theatro Municipal, gerando um maior movimento não só do local, mas também de toda aquela região central. Correto? Pode parecer ter algum sentido, mas na prática sabemos que provavelmente não.

Vários pontos podem ser usados para rebater essa ideia. O primeiro é a visão de que incentivo para carros como mais vagas de estacionamento, ou a criação de mais estradas, irá ser benéfico para a cidade. Existem pesquisas que apontam para o fato de que a criação de mais estradas e vagas para carros não diminuem congestionamentos, e sim que acontece exatamente o contrário. Para confirmarmos isso, basta um olhar para as cidades onde vivemos, quanto maior os benefícios para os carros, mais pessoas vão buscar utilizá-los no lugar dos outros meios de transporte (Falamos um pouco sobre isso aqui), gerando apenas mais dificuldades e mais condições ruins para aqueles que utilizam o transporte público, ou circulam a pé ou com bicicletas, algo que vai totalmente de encontro com o que as maiores cidades do mundo vem fazendo, e até mesmo no que a própria São Paulo vinha buscando nos últimos anos.

Um outro ponto é exatamente essa ideia de que mais vagas e mais carros vão gerar segurança e um consequente maior movimento no centro. Os pedestres que circulam em ruas voltadas para carros sabem muito bem que isso não é sinônimo de segurança, carros correndo em altas velocidades dificilmente vão gerar algum tipo de influência benéfica para a segurança dos que estão andando a pé, no caso dos calçadões é possível que eles possam até causar mais riscos de acidentes, já que sempre foi uma região voltada apenas para pedestres e bicicletas. O que seria mais efetivo é a busca por movimento de mais pessoas nas ruas, e não dentro de carros.

Outro argumento que dificilmente se sustenta é a ideia que irá causar um grande benefício para o acesso ao Theatro Municipal, visto que ele possui capacidade para mais de 1500 pessoas. Para realmente incentivar o seu uso, não são algumas vagas que vão gerar um grande boom de movimento no local, e sim um pensamento muito mais macro considerando uma forte rede de transporte público que realmente possibilite o acesso de uma grande quantidade de pessoas em segurança.

Se a ideia for realmente movimentar o centro e o Theatro Municipal, o poder público pode pensar em outras alternativas, como mudar os pontos de parada e alterar as rotas de ônibus para mais perto do teatro nos horários noturnos, ou até mesmo baratear as passagens nessas linhas, como sugeriu a Cidadeapé – Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo apoiado por outros coletivos. Certamente essas iniciativas seriam mais efetivas e não causariam tantos danos para o sistema de mobilidade da cidade, algo que outras cidades do mundo já perceberam há muito tempo.

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