Falar sobre os impactos econômicos que a pandemia do covid-19 causou se tornou chover no molhado. Grandes e especialmente pequenos comércios foram tremendamente impactados com as restrições sociais impostas devido a presença do vírus, muitos comerciantes não aguentaram e tiveram de fechar as portas, outros conseguiram sobreviver, mas fazendo cortes e mudanças drásticas.
Aproximadamente três anos passados desde o início da pandemia, a normalidade parece ter sido recuperada, ainda que algumas coisas talvez nunca mais voltem ao que eram antes.
Um desses casos diz respeito a forma e jornada de trabalho nas empresas, já fizemos aqui um post falando sobre a decadência imposta aos centros corporativos das grandes cidades (veja aqui), onde muitos empresas simplesmente perceberam que permitindo o trabalho a partir de casa, ou no modelo híbrido, muitos dos custos do modo 100% presencial são eliminados. Por outro lado, é lógico que esse tipo de mudança acaba afetando outros setores da cidade, como o do transporte público, restaurantes, lojas, alugueis, etc.
As grandes cidades são as mais impactadas com essa nova forma de trabalho. Uma pesquisa divulgada pela Bloomberg News mostra que a cidade de Nova Iorque está deixando de arrecadar pelo menos 12,4 bilhões de dólares por ano. Boa parte das empresas da cidade resolveu adotar o sistema híbrido, fazendo com que os funcionários trabalhem de casa nas segundas e nas sextas-feiras e presencialmente apenas nas terças, quartas e quintas-feiras.
Como consequência, nas segundas e sextas os metrôs se esvaziaram, assim como o movimento nas lanchonetes e nos restaurantes, especialmente na área de Manhattan. De acordo com números do final de 2022, no geral a circulação de trabalhadores na cidade se recuperou em cerca de 43% comparado com o período de antes da pandemia. Nas terças-feiras esse número subiu para em média 51%, enquanto nas sextas-feiras caiu para apenas 23%.
O número de usuários do metrô caiu em 70% comparado com o pré-pandemia, os donos de restaurantes e lanchonetes também reclamam que o faturamento está longe do que era antes.
Todas essas consequências causam grande preocupação para os administradores públicos, afinal de contas isso significa uma menor arrecadação de impostos.
Se por um lado os efeitos sob regiões tradicionais como Manhattan são cruéis, os bairros mais residenciais estão tendo um efeito positivo em seus comércios. Com os trabalhadores não precisando mais se deslocarem sempre para o centro, os restaurantes e bares mais próximos de seus lares passam a ter mais movimento, é o que mostram os dados de uma pesquisa da empresa Square, onde as transações aumentaram 48% no bairro de Brooklyn comparando o final de 2022 com 2019, bem mais que os apenas 18% em Manhattan.
Ainda assim, os impactos sobre alguns setores são grandes demais para serem ignorados. Pesquisadores projetaram um prejuízo de cerca 5 bilhões de dólares em receita tributária com o esvaziamento das salas para escritórios, algo que significa cerca de 5% do orçamento anual municipal. No transporte público a queda de receita pode atingir mais de 2 bilhões de dólares por ano até 2026. O prefeito novaiorquino, Eric Adams vem tentando pressionar os empresários para a volta do trabalho 100% presencial na cidade, mas certas mudanças parecem inevitáveis.
Esse novo cenário ainda soa recente demais para assimilarmos totalmente seus efeitos, mas tudo indica que nunca mais teremos a mesma configuração de anos atrás. Como foi dito na outra matéria (veja aqui), cabe as cidades aceitarem esse novo modelo urbano e se adaptarem a ele da melhor maneira possível, tentando recuperar a economia dos afetados e mantendo aqueles benefícios conquistados pelos trabalhadores.