Prédios mais altos são bons para as cidades?

A construção de prédios muito altos já passou por diferentes perspectivas do ponto de vista da sociedade. A princípio muitos se maravilharam com a capacidade de construção de edificações tão altas, por outro lado muitos passaram a criticar a agressividade e o impacto visual dessas construções na paisagem das cidades. Mais recentemente muitos passaram a defender esse tipo de edificação com a justificativa de promover um maior adensamento para o ambiente urbano.

A ideia de promover o adensamento das cidades é positiva, se feito da maneira correta, uma maior quantidade de pessoas no ambiente urbano ajuda a promover a economia local, melhora a qualidade de vida das pessoas, ajuda na segurança pública e fortalece o transporte público. Lógico que na prática nem tudo é tão simples e fácil, mas a teoria parece fazer muito mais sentido do que o modelo de espraiamento das cidades, onde o incentivo é exatamente o oposto, já que a ideia é fortalecer os subúrbios das cidades, com bairros afastados e baixíssima densidade, algo especialmente comum nas cidades americanas, demandando muitos mais gastos com infraestrutura e uma dependência total de carros e veículos individuais.

Toda essa ideia de adensamento é interessante, mas a questão aqui é: os prédios mais altos realmente vão gerar isso?

Um exemplo conhecido e importante de analisarmos é o de Eixample, em Barcelona na Espanha.  O bairro abriga grande parte da população da cidade e é referência em alta densidade (36 mil hab/km²), porém foi projetada com altura máxima de 16m (quatro andares) em seus prédios. Posteriormente houve alterações, mas chegando ao limite de apenas 20,75m; demonstrando que prédios com pouca altura são plenamente capazes de oferecer altas densidades populacionais.

Bairro Eixample em Barcelona. Foto: Nick Wehrli

Trazendo para a discussão um exemplo ainda mais forte, mas também mais próximo de nossa realidade: segundo dados do IBGE de 2016, os locais com maior densidade do país são as favelas de Paraisópolis em São Paulo (45 mil hab/km²), e Rocinha (39 mil hab/km²) e Nova Holanda (35 mil hab/km²)  no Rio de Janeiro; todos espaços formados por casas, praticamente sem verticalização. Em compensação, em Paraisópolis somente 25% das pessoas moram em casas com rede de esgoto, metade das ruas não possuem asfalto e 60% utilizam meios irregulares para obter energia elétrica, algo que nos revela que alta densidade não significa necessariamente boa infraestrutura e qualidade de vida para as pessoas.

Um exemplo de situação oposta é o bairro de Moema, em São Paulo. Mesmo possuindo edifícios altos, vários ultrapassando 15 andares, a densidade é de apenas 9.2 mil hab/km². Isso ocorre porque apesar da grande altura alcançada, esses edifícios costumam ocupar terrenos de grandes dimensões, além de muitas vezes não oferecerem uma grande quantidade de apartamentos. Em empreendimentos de luxo é comum vermos apenas um apartamento por andar.

Alguns argumentam que a construção desse tipo de edifício é causada pelas legislações municipais que restringem muito a área que pode ser construída, gerando um baixo aproveitamento da área do terreno. Isso de fato acontece e pode ser comprovado quando olhamos outras grandes cidades do mundo, que estão diminuindo as exigências construtivas (Como é o caso dos estacionamentos, tema que já falamos algumas vezes aqui no blog), mas o que percebemos na maioria das vezes é um discurso oportunista, geralmente combinado entre administração municipal e grandes construtoras, em que o objetivo é facilitar a criação de mais prédios de luxo com alturas exorbitantes tendo o argumento de ajudar na densidade da cidade através da verticalização, algo que como acabamos de ver, está longe de ser necessariamente verdade.

É importante a sociedade civil estar atenta para tal discurso, uma vez que o objetivo parece passar pelo interesse das grandes construtoras, independente de gerar um adensamento ou espraiamento das cidades.

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