Passagens mais baratas fortalecem o transporte público

Iniciativas como o passe livre são costumeiramente alvos de discussões e debates na sociedade. Todos aparentemente concordam que se trata de uma ação benéfica para a população, mas os debates costumam passar pelo lado da viabilidade econômica e por uma forma em que os serviços acabem se pagando.

Uma espécie de meio termo entre o passe livre a cobrança “normal” vem ganhado força em muitos países, especialmente na Europa: a adoção de uma tarifa mais baixa que permita as pessoas a não gastarem uma grande quantia com transporte e ao mesmo tempo faça com que o estado e as empresas de transporte não deixem de arrecadar.

Desde setembro do ano passado a maioria dos serviços de ônibus da Inglaterra passaram a cobrar uma tarifa limite de 2 libras (equivalente a  12,23 reais segundo a cotação atual) pelo período de três meses. Tal medida custou cerca de 60 milhões de libras para os cofres públicos, mas foi tomada devido ao grande aumento do custo de vida no país. Para muitos passageiros a economia pode ser de mais de 3 libras em uma única passagem, o governo também argumenta que esse novo limite pode economizar mais de 60 libras por mês para muitos passageiros que utilizam o serviço diariamente.

A Inglaterra não foi o único país a adotar essa experiência, no último verão europeu a Alemanha foi ainda mais ousada ao adotar uma tarifa mensal de apenas 9 euros (48,88 reais segundo cotação atual) que permitia acesso para os serviços de trem, metrô e ônibus em todo o país. O número de pessoas que passou a utilizar o transporte público aumentou muito, o governo local revelou que um quinto dos alemães passou a usar o transporte regularmente pela primeira vez na vida, além de um aumento de 42% nas viagens ferroviárias. Os impactos econômicos e sociais também foram notados, a inflação reduziu em até 2% de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia. Fica fácil entender a razão disso quando vemos que o passe mensal em Berlim costumava custar 86 euros (467,46 reais segundo cotação atual) e 115 euros (624,87 reais) em Hamburgo.

No caso desses dois países a adoção dessa medida foi apenas temporária, na Alemanha após seu encerramento houve muitas discussões públicas e disputas políticas a respeito do assunto, levando a uma decisão final de adotar o passe permanente de 49 euros (266,27 reais) por mês, algo que foi considerado uma grande vitória para aqueles defensores do transporte público. Na Inglaterra o desafio deve ser semelhante, uma vez que a medida se encerra agora em março.

 

O que isso ensina para nós brasileiros?

 

A realidade brasileira logicamente não é a mesma da alemã ou inglesa, nossas mazelas sociais são mais profundas e as dificuldades econômicas mais desafiadoras, porém a experiência europeia nos mostra que muitas vezes o que nos afasta de uma maior valorização e utilização do transporte público é o alto valor das passagens. Alguns podem argumentar que a qualidade do transporte brasileiro está muito aquém da qualidade europeia – algo realmente verdadeiro -, mas a cobrança de uma tarifa alta por um transporte cheio de defeitos faz ainda menos sentido se formos parar para analisar.

Um país com nossas desigualdades e onde cada real faz a diferença na vida da maioria das famílias, faz com que a cobrança de tarifas mais baixas seja algo ainda mais importante dentro de nossa realidade.

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