A cidade de Medellín, na Colômbia, passou uma mudança significativa nos últimas anos. Conhecida como a “capital mundial dos assassinatos” nos anos 90, a cidade conseguiu sair de um passado violento para se tornar um grande destino turístico. No entanto, esse renascimento trouxe novos desafios, visto que os aluguéis dispararam e muitos moradores locais parecem resistir a essa onda de turistas.
No final dos anos 2000, Medellín viu um declínio na violência, atraindo investimentos e turistas estrangeiros. A cidade, antes marcada pelo famoso traficante Pablo Escobar, tornou-se palco de mochileiros e visitantes em busca de uma nova experiência turística. No entanto, o recente boom turístico, acelerado pela pandemia e pelo aumento do trabalho remoto, trouxe consigo um novo cenário.
O ano de 2022 registrou em Medellín um recorde de 1,4 milhão de visitantes estrangeiros, – a maioria dos EUA -, superando a cidade de Cartagena pela primeira vez. A ascensão do trabalho remoto e dos chamados nômades digitais, agora frequentando cada vez mais cafés e espaços de trabalho compartilhados, colocou Medellín no radar do Nomad List, site que inclui recomendações para profissionais remotos, como o principal destino da América Latina depois de Buenos Aires e Cidade do México.
O fascínio das pessoas pela cidade se dá por além de sua história conturbada, com a economia favorecendo estrangeiros devido à desvalorização do peso colombiano. Apelidada de “cidade da eterna primavera” devido ao clima ameno e à infraestrutura de transporte eficiente, Medellín conquistou corações e se tornou um refúgio para esses trabalhadores remotos.
A série “Narcos” da Netflix e outras representações midiáticas popularizaram a cidade, atraindo uma geração que passou conhecer uma nova Medellín transformada no período pós-Escobar. Escobar foi morto em 1993, e os esforços para desarmamento contribuíram para a redução da violência. Investimentos em educação e infraestrutura também foram fundamentais para a melhoria na qualidade de vida.
Apesar dos benefícios econômicos e oportunidades de negócios geradas pelo turismo, os moradores locais enfrentam questões importantes. O grande aumento no preço dos aluguéis, impulsionado pela chegada de turistas por longas durações, gera tensões. Bairros antes acessíveis agora sofrem com aumentos próximos de 80% nos preços dos aluguéis, ultrapassando a inflação e prejudicando os moradores locais que vivem com baixas rendas.
Para muitos, a transformação de Medellín em um destino turístico significa perder a facilidade de habitação e enfrentar mudanças nas dinâmicas sociais. Moradores se viram obrigados a mudar para áreas mais afastadas devido aos custos crescentes. O descontentamento cresce, criando um cenário onde cartazes públicos contra a inflação provocada por estrangeiros são vistos nas ruas.
As autoridades locais tentam lidar com a situação, conscientizando os proprietários sobre leis que regulamentam aluguéis de curto prazo. No entanto, as soluções parecem insuficientes para conter os efeitos a longo prazo. Barricadas foram instaladas em pontos turísticas, como o Parque Lleras e a Plaza Botero, na tentativa de ter algum controle no fluxo de visitantes.
Esse dilema não é exclusivo de Medellín, uma vez que outras grandes cidades turísticas passam por situações semelhantes. Barcelona e Amsterdã já implementaram restrições para conter o impacto do turismo de massa. Em Medellín, propostas semelhantes são consideradas, limitando áreas específicas para turistas e preservando outras para os habitantes locais.
A transformação de Medellín, de um passado marcado pela violência para uma cidade turística em ascensão, é inegavelmente positiva em muitos aspectos. No entanto, a rapidez dessas mudanças levanta questões cruciais sobre como equilibrar o desenvolvimento turístico com as necessidades e os interesses da população local.