Imensas áreas abertas de cimento, asfalto ou qualquer que seja o material – geralmente acinzentado -, mas sempre reservadas para carros. Esses são os estacionamentos, ambientes extremamente fáceis de serem encontrados em qualquer área dos EUA.
Sua popularidade no país está diretamente relacionada ao estilo de vida americano e a maneira como as cidades foram construídas, sempre com a predominância de carros e veículos particulares utilizados para locomoção por toda parte. As distâncias entre bairros e regiões não precisam serem necessariamente curtas, ou pensadas para pedestres, afinal todos vão e voltam em seus carros. As únicas prioridades irrevogáveis são: grandes vias para os carros correrem, e estacionamentos em todos os empreendimentos para os carros ficarem.
Por mais preocupante que isso posso parecer (para alguns nem tanto), um grupo cada vez maior de pessoas tem contestado esse modelo de funcionamento, argumentando que isso é ruim para as cidades, para as pessoas e para o meio-ambiente.
Em janeiro do próximo ano a Califórnia se prepara para ser o primeiro estado americano a abolir os requisitos mínimos obrigatórios de estacionamento. Outras cidades como Anchorage, Cambridge e Nashville, também estão tomando decisões visando o afrouxamento dessas exigências. Outras como Buffalo e Fayetteville, já reduziram as exigências mínimas nos últimos anos e estão percebendo um aumento no número de edificações que antes estavam abandonadas e agora estão se tornando empreendimentos ativos, como lojas, restaurantes e apartamentos. Os construtores dessas regiões antes diziam que construir novos empreendimentos era quase impossível graças as exigências de um número muito alto de vagas para estacionamento, muitas vezes deixando essas áreas maiores que a própria edificação. A diminuição desses requisitos vem permitindo que se possa construir com equilíbrio novamente.
Esse fetiche americano pelos estacionamentos é ainda mais absurdo quando paramos para olhar alguns números, as estimativas são de que no país exista entre três e seis vagas de estacionamento por carro, chegando a dois bilhões no total. Em algumas regiões o espaço para estacionamento é maior do que para moradia. Até mesmo em Nova Iorque, – uma exceção no que diz respeito a maneira como foi construída comparada com as outras cidades americanas, – se estima que existam quase 4 milhões de vagas de estacionamento onde apenas 3% delas não são gratuitas. A Califórnia já é tradicionalmente conhecida por seu funcionamento baseado em carros e estradas, alguns números impressionantes comprovam isso: no condado de Los Angeles, cerca de 40% de sua área é destinada a estradas e estacionamentos, na região da baía de São Francisco se estima que existam cerca de 15 milhões de vagas de estacionamento.
São dados impressionantes mesmo para nós brasileiros que absorvemos boa parte dessa cultura de priorização dos automóveis, mas felizmente existem pessoas que estão buscando mudar esse quadro. O professor de planejamento urbano, Donald Shoup, da Universidade da Califórnia, escreveu em 2005 um livro chamado “The High Cost of Free Parking” (Sem versão em português, mas podendo ser traduzido para “O alto custo do estacionamento gratuito”), onde já alertava para os malefícios do estacionamento gratuito na dinâmica urbana e no incentivo do uso prioritário de automóveis.
Recomendamos a leitura dos posts sobre “Vagas gratuitas de estacionamento? Ou gratuidade/barateamento das tarifas de transporte público?”, “Os benefícios do fim dos estacionamentos”, e “ITDP elabora um guia para precificação de estacionamentos em espaços públicos”.
Afinal de contas, como bem disse Donald Shoup: “Quanto mais você olha para os mínimos de estacionamento, mais você percebe que eles são ridículos. As pessoas finalmente estão ouvindo e acordando para isso.”