Andar na cidade: o melhor hábito para o cérebro

Andar a pé é o meio de transporte mais antigo e natural do mundo. O ato de caminhar não agride o meio-ambiente, permite o acesso entre outros meios de transporte e ainda faz bem para a saúde física e mental.

Os benefícios físicos já são amplamente divulgados nas mídias, sabemos que a caminhada ajuda na capacidade respiratória, faz bem para o coração, fortalece os músculos, previne diabetes, melhora a circulação do corpo, e tantas outras vantagens comprovadas cientificamente.

Um outro lado que não costuma ser tão falado diz respeito as questões mentais, não só ligadas a aspectos como a diminuição de chances de depressão, mas também em relação ao aumento da criatividade.

Em novembro, Bruce Bagh, professor de filosofia aposentado, publicou um livro chamado Philosophers’ Walks (sem publicação em português), onde ele relaciona o simples ato de caminhar com o desenvolvimento de ideias de filósofos, como Friedrich Nietzsche, Virginia Woolf e Simone de Beauvoir. Segundo o professor, esses filósofos tinham o hábito de passear e carregar com eles um caderninho para anotar as ideias que iam surgindo. Chegando em casa essas anotações eram transcritas e ainda mais aprimoradas. Essa ideia não é difundida apenas pelo professor Bagh, existem estudos científicos que também atestam o andar ao ar livre como agente para o cérebro produzir uma sensação de liberdade, ajudando a estimular a criatividade e o desenvolvimento de novas ideias.

Mas o que isso tudo tem a ver com o urbanismo e o planejamento de nossas cidades? Na verdade, isso tem tudo a ver.

Se determinamos que uma cidade deve ser feita para caminhar, isso vai influenciar totalmente no modo em que vamos construi-la. Um lugar com foco na construção de vias com carros em alta velocidade certamente irá atrair mais e mais carros e cada vez menos pedestres.

É necessário também reconhecer que nem todo trajeto vai ser possível de ser feito a pé, especialmente quando falamos das grandes metrópoles. Outro fator a ser reconhecido é que a “glorificação” do andar a pé deve ser feita com muita cautela, pois muitos caminham mais pela falta de opção do que qualquer outro motivo. Existem aqueles que não possuem o serviço de um transporte público adequado disponível, enquanto muitos não possuem nem mesmo a condição de pagar por esse transporte. Daí a importância de se pensar em outras questões como a facilitação do acesso ao transporte público, ou até mesmo do passe livre, questão já tantas vezes abordada aqui no site, como nesse ou nesse outro post.

A valorização do pedestre e do caminhar passa por um esforço coletivo em defesa de uma cidade para todos. Precisamos entender os diferentes contextos sociais e geográficos de cada local para assim construir uma cidade que permita as pessoas caminharem e a oportunidade de desfrutarem da cidade. Afinal, como disse o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard em uma carta para a sua sobrinha em 1847:

“Se alguém continuar andando, tudo ficará bem”.

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