As cidades estão acabando após a pandemia?

Depois do difícil período de pandemia muitos alarmistas e pessoas anti-cidades passaram a falar do ambiente urbano como algo negativo. O argumento se baseia na ideia de que a vida na cidade passou a ser cada vez pior, com muitos aspectos fundamentais apresentando pioras em seus números.

Agora já passados os momentos mais difíceis, podemos parar e verificar que esse diagnóstico não está correto.

Um dos principais pontos levantados pelos alarmistas é sobre a questão econômica. Com a crise provocada pela pandemia e o fechamento de muitos empreendimentos a taxa de desemprego naturalmente sofreu grande alta. Isso rapidamente gerou reações de pessoas apontando para o fim da prosperidade econômica e das grandes oportunidades de empregos presentes nas grandes cidades, mas na realidade vemos que os números referentes a taxa de desemprego estão caindo e retornando aos encontrados antes da pandemia. Temos essa comprovação ao vermos os dados apresentados pelo IBGE sobre as duas maiores cidades do país em 2022. (Veja os números de São Paulo e do Rio de Janeiro)

A situação não é de diferente em outras grandes cidades globais. Puxado pela cidade de Nova Iorque, os Estados Unidos têm registrado uma queda no número de auxílio-desemprego desde o ano passado.

Situação semelhante a registrada em Madri na Espanha e a em Paris na França, citando mais alguns exemplos.

Um outro fator que poderia indicar uma decadência urbana é uma suposta queda da população presente nas grandes cidades.

As primeiras pesquisas mostram que de fato muitas cidades tiveram queda em sua população especialmente nos anos de 2020 e 2021, pico da pandemia. Inclusive é recomendável a leitura dessa matéria mostrando dados sobre o tema no contexto dos Estados Unidos.

Porém é precipitado tomar qualquer tipo de conclusão sem uma maior margem de tempo. No Brasil percebemos muitos casos de pessoas que saíram das grandes cidades e retornaram para suas cidades natais, visto que muitas vezes o que as prendiam era a necessidade de trabalho ou estudo presencial. Com o crescimento do trabalho e das aulas remotas muitos viram a possibilidade de estarem próximos de suas famílias novamente. Todavia, mesmo que muito desse cenário de atividades remotas tenha vindo para ficar de vez, muitas das atividades do período pré-pandemia já retornaram.  Só mesmo com o passar do tempo e com a realização de novos censos populacionais vai ser possível perceber com clareza algum tipo de tendência.

Os mais alarmistas insistem em ressaltar o aumento da criminalidade e como pode ser perigoso viver nas cidades. De fato, se for feito um longo recorte podemos perceber um aumento na taxa de homicídios e roubos nos últimos anos, porém os números mais recentes são difusos e apontam quedas em alguns pontos e aumento em outros. Para citar um exemplo, na cidade de São Paulo tivemos um aumento no número de homicídios de 2019 para 2020, mas desde então tem existido uma queda. Por outro lado, o número de roubos vinha caindo desde 2019, mas novamente teve um aumento no último ano.

Uma detalhada matéria da Bloomberg argumenta que a cidade de Nova Iorque pode ser considerada muito mais segura que as pequenas cidades americanas, graças a uma análise contendo estatísticas sobre várias causas de morte possíveis.

São muitos os desafios e os problemas a serem enfrentados na vida dentro da cidade, especialmente para os grupos marginalizados e mais vulneráveis; porém as cidades ainda são os ambientes com as maiores oportunidades e onde as coisas acontecem. Cair na conversa dos alarmistas é ignorar tudo de positivo que nossas cidades ainda podem oferecer. O nosso papel é lutar para que elas sejam cada vez melhores.

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