A crise das regiões centrais das cidades não é algo recente, antes da pandemia já se discutia estratégias para buscar revitalizar os centros urbanos, locais que por terem sido o ponto de partida das cidades acabaram passando por processos de degradação ao longo do tempo. Passado o período mais crítico da pandemia essas discussões se intensificaram ainda mais por conta da mudança na forma da ocupação dos espaços de trabalho. Tema já abordado em outros textos por aqui (veja aqui e aqui).
Gostando ou não, ao reconhecermos que o funcionamento dos ambientes corporativos provavelmente não irá retornar ao que era antes, se torna necessário voltar para a discussão de como ajudar a reerguer os centros. Com a diminuição de pessoas trabalhando e circulando por essas áreas temos por consequência uma diminuição da receita dos comerciantes centrais e do transporte público. Outro fator que algumas cidades relatam é o de aumento de roubos e da violência.
Uma sugestão que muitos apontam para a revitalização do centro é a de transformar esses escritórios agora vazios em apartamentos para habitação. Essa ideia de incentivar o uso misto na cidade não é algo novo, foi defendida por Jane Jacobs na década de 60, e é apontada como a principal razão para a revitalização do centro de cidades como Filadélfia e da região de Lower Manhattan, em Nova Iorque.
Outras cidades americanas como a capital Washington pretendem seguir o mesmo caminho, recentemente a prefeita Muriel E. Bowser apresentou um plano que prevê 15 mil novos residentes morando no centro da cidade até 2028 através de uma grande transformação de escritórios em apartamentos e condomínios.
A solução não é tão simples como pode parecer e possui alguns obstáculos. As taxas de juros nos EUA estão altas e a maioria dos edifícios precisam de reformas complexas e demolições parciais. Para isso, Washington planeja incentivos fiscais para as construtoras poderem realizarem as obras sem desvantagens financeiras.
Os prejuízos financeiros para as cidades já são inevitáveis. Com a queda de receita gerada pelos imóveis vazios a maioria das cidades já relatam déficits altos e com os imóveis se deteriorando a estimativa é que isso continue a piorar, exigindo uma ação rápida dos administradores municipais.
Trazer moradias para os centros também traz a possibilidade de se pensar políticas relacionadas a promoção de habitações de interesse social, ajudando a diminuir o problema do déficit habitacional, algo que também vem sendo um grande problema para as grandes cidades brasileiras e americanas.
Infelizmente as administrações de nossas cidades parecem mais preocupadas em atender os interesses das grandes construtoras do que propriamente resolver problemas como esse relacionado a habitação, mas que então ao menos se encontre um meio de incentivar essas construtoras a realizarem um trabalho que seja de alguma forma interessante para elas e benéfica para o interesse geral das cidades. Pensar na transformação de escritórios em apartamentos no centro parece um bom ponto de partida.