Na última semana a prefeitura de São Paulo anunciou planos de criação de faixas exclusivas para motos em algumas avenidas da cidade. O projeto começou a ser implementado desde o ano passado, quando a chamada Faixa Azul foi implementada no trecho entre a Praça da Bandeira e o Complexo Viário Jorge João Saad. A prefeitura alega que a medida foi um sucesso, o trecho que completou agora um ano de implementação não apresentou nenhum acidente fatal de acordo com dados fornecidos pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) do município.
Outro fator que motivou a administração da cidade a prosseguir com esse projeto foi uma viagem feita por técnicos da CET no último mês para a Malásia, país onde existe uma grande quantidade de faixas exclusivas para motos e foi inspiração para os administradores paulistanos.
Questionamentos:
Apesar do apoio de alguns, incluindo o SindimotoSP (Sindicato dos Motociclista Profissionais de São Paulo), também são muitos os que contestam os argumentos apresentados pela prefeitura. O primeiro deles tem relação com a alegada eficácia dessas faixas. No final dos anos 2000 e início dos anos 2010, motofaixas foram criadas na cidade nas avenidas Vergueiro e Sumaré, porém o número de acidentes acabou crescendo e por isso elas foram desativadas. Os dados atuais também geram dúvidas, apesar da prefeitura divulgar a faixa da Av. 23 de Maio como sucesso, os números oficiais de mortes no trânsito em 2021 só foram divulgados agora em 2023. Já em 2022, ano em que a motofaixa da Av. 23 de Maio foi criada, ainda não tivemos dados oficiais divulgados. (Para ver os dados de 2021, clique aqui) O número geral de mortes e acidentes no trânsito tem aumentado na cidade – até mesmo nos anos de pandemia -, considerando todos os meios de transporte, até mesmo o de motociclistas.
Um outro fator que parece preocupar alguns dos estudiosos sobre o assunto é a inspiração da prefeitura no modelo da Malásia. Números mostram que o país asiático não parece ser uma boa referência no que diz respeito a mobilidade urbana. De acordo com matéria da rede NST, o professor Dr. Kulanthayan K.C Mani, da Universiti Putra Malaysia, especialista em segurança rodoviária, o número de veículos registrados ultrapassou o número da população oficial do país no último ano, são 33,3 milhões de veículos para 32,6 milhões de pessoas. (Confira a matéria completa aqui)
Uma outra pesquisa mostra que incríveis 83% das casas malaias possuem ao menos uma motocicleta. (Veja aqui) Isso torna o contexto da Malásia muito particular e difícil de se comparar em relação ao Brasil.
O problema dos congestionamentos e péssima qualidade do trânsito é um problema de praticamente todas as grandes cidades do mundo, porém o esforço das principais cidades tem ido em uma direção diferente do que temos visto em São Paulo e na Malásia. Os maiores objetivos de melhoria estão relacionados com o incentivo ao transporte público e ao uso de bicicletas no lugar de veículos individuais, como motos e carros. Diante de tudo isso fica o questionamento para a prefeitura de São Paulo e para todas as nossas cidades brasileiras: a cópia de medidas adotadas por Amsterdã, Paris, Copenhagen, Boston, Nova Iorque, ou Bogotá, não parece ser mais interessante do que ter o trânsito da Malásia como referência?