Fortaleza: 5 Medidas que Estão Tornando a Cidade uma Referência em Mobilidade Urbana

Notícias mais recentes indicam que grandes cidades do Brasil infelizmente não parecem avançar muito em questões referentes a mobilidade urbana. Exemplos como os de São Paulo mostram retrocessos em temas como o incentivo a mais vagas e estacionamentos para carros, e criação de faixas exclusivas para motos que estão culminando numa piora no número de congestionamentos no trânsito.

Entretanto um bom exemplo nacional que merece ser citado é o da cidade de Fortaleza. Em um relatório do Fórum Internacional de Transporte citando as cidades que estão conseguindo diminuir o número de mortes no trânsito, a única brasileira presente é Fortaleza. Em 2010, a capital cearense tinha o alto índice de 14,9 óbitos a cada 100 mil habitantes. Em 2020 a cidade anunciou que reduziu o índice de óbitos para 7,4, uma diminuição impressionante de pouco mais de 50% nesse período. Para chegar a esse número podemos citar algumas medidas que foram tomadas:

 

1 – Redução no Limite de Velocidade:

Muitas das principais vias da cidade – como as avenidas Castelo Branco, Francisco Sá e Augusto dos Anjos – tiveram sua velocidade máxima reduzida para 50 km/h, algo recomendado pela Organização Mundial da Saúde para a diminuição de acidentes graves e fatais. Além disso foram feitas melhorias na sinalização, com criação de faixas exclusivas para ônibus e ciclofaixas.

Os resultados foram extremamente positivos: Na Avenida Castelo Branco, as colisões com feridos caíram 41% e os acidentes com pedestres 83%. Em casos como a Avenida Leste-Oeste o número de óbitos zerou, enquanto a quantidade geral de acidentes com óbitos na cidade caiu em média quase 70%.

 

2. Redesenho do espaço urbano:

Ainda relacionado com o ponto anterior, além da criação de ciclofaixas e faixas para ônibus, muitas sinalizações e alterações no desenho de vias e calçadas foram feitas visando priorizar o pedestre. A prefeitura criou o programa Esquina Segura, buscando alterar interseções e estendendo calçadas e áreas para pedestres, muitas vezes se utilizando de intervenções simples e de baixo custo.

 

3. Alteração e criação de leis:

Graças a uma lei ordinária de 2018 todo o valor arrecadado com os estacionamentos rotativos passou a obrigatoriamente ser aplicado exclusivamente na Política Cicloviária do município, ou seja, na infraestrutura para o ciclismo na cidade. Isso certamente contribuiu para a criação e a ampliação de ciclovias, além de fortalecer o sistema de bicicletas compartilhadas de Fortaleza.

 

4. Investigação sobre a causa dos acidentes:

Fortaleza tem adotado uma abordagem baseada em dados para embasar suas intervenções e planejamento urbano, utilizando o Sistema de Informação de Acidentes de Trânsito (SIAT) com oito fontes de informações diferentes.

Com o apoio do instituto WRI Brasil na inspeção de segurança viária do corredor de BRT do Aguanambi, e na área de trânsito calmo do Lago Jacarey, a cidade passou a considerar a utilização de auditorias de segurança viária como procedimento padrão antes de novos projetos. Essas auditorias buscam avaliar e mitigar os riscos de acidentes, recomendando modificações na infraestrutura viária para melhorar a segurança e influenciar o comportamento dos usuários.

 

5. Campanhas e comunicação com a sociedade:

Fortaleza priorizou a comunicação com a sociedade desde o início do processo de promoção da segurança viária, por meio da imprensa e por campanhas específicas, destacando a importância da mobilidade urbana e a prioridade da segurança no trânsito.

Uma dessas campanhas é a “Semana da Mobilidade”, promovida em diversos pontos da cidade com o objetivo de chamar atenção da população para soluções e alternativas referentes a mobilidade urbana.

Esse trabalho de promoção da segurança viária foi acompanhado por uma comunicação efetiva e fiscalização nas ruas, permitindo que a população percebesse o investimento nessa área. A proximidade com a comunidade também revelou a necessidade de ajustes em algumas intervenções para atender às demandas coletivas.

 

O resultado da implementação de essas e outras medidas é a melhoria significativa do sistema viário da cidade, além de atender os interesses da população e ressaltar Fortaleza como referência nacional no assunto, tendo inclusive relevância no contexto global.

Medidas que parecem impopulares para alguns – como a diminuição dos limites de velocidade -, passaram a serem reconhecidas pela população graças aos resultados positivos e a preocupação com a necessidade de sempre embasar com números e estudos. Como por exemplo um estudo recentemente divulgado pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) de Fortaleza comprovando que a redução no limite de velocidade das ruas não fez as viagens demorarem mais. Foram analisadas sete vias de grande circulação na Capital mostrando que na verdade o aumento no tempo médio dos trajetos foi de apenas seis segundos.

Estudos como esses revelam a preocupação e a seriedade do município no que diz respeito a melhoria da mobilidade urbana. Que mais cidades brasileiras sigam por esse mesmo caminho.

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