A cidade de Los Angeles é conhecida mundialmente por seu glamour, os famosos de Hollywood, suas praias… basicamente a cidade símbolo do chamado “sonho americano”. Mas um outro lado que muitos desconhecem é o fato de a cidade possuir um dos piores trânsitos do planeta.
Explicando melhor: esse título não diz respeito ao caos no trânsito, como ficaram famosas as ruas de Bangladesh ou outras cidades semelhantes, mas sim por conta de seus engarrafamentos gigantescos. Em anos anteriores a cidade americana foi avaliada como tendo o pior engarrafamento do mundo, por exemplo em uma pesquisa realizada em 2017 pela ‘Global Traffic Scorecard’ revelando que os motoristas de LA gastavam em média 104 horas por ano em engarrafamentos, mais do que os habitantes de qualquer outra cidade do mundo. Bem verdade que essa pesquisa já possui aproximadamente 6 anos e outras mais recentes mostram uma melhora no ranking em relação a outras cidades, mas de toda forma é inegável que Los Angeles é uma cidade feita para carros.
Los Angeles não possui um centro extremamente denso, como o de Manhattan em Nova Iorque, pelo contrário, seu desenho é de uma cidade espalhada com muitos bairros lineares e afastados uns dos outros. As razões para isso podem ser encontradas quando olhamos para sua formação histórica. Segundo o historiador Eric Stewart, a tradicional elite protestante americana branca, tipicamente de ascendência britânica chegou a LA nos anos de 1870 com a intenção de trazer características de suas cidades natais para a cidade americana. A ideia era ser uma “cidade de casas”, sem favelas ou bairros pobres. Para eles as cidades industriais eram como “pântanos de crime, doença e imoralidade”.
Stewart acrescenta que naquela época os ricos de LA competiam entre eles para construir a casa mais bonita e elaborada, gerando uma aparente melhoria na infraestrutura da cidade, ocorrendo principalmente na requalificação e no alargamento das estradas; na extensão das linhas de água e esgoto, mas concentrando tudo isso apenas na área nobre, deixando de lado bairros pobres com maioria de mexicanos e chineses.
O crescimento das linhas de bondes também facilitou sua expansão residencial. No inicio do século XX, as cidades mais densas como Nova Iorque começaram a construir suas linhas de metrô, mas LA já estava espalhada demais para tornar isso viável naquele momento. Com a chegada da ‘era do automóvel’ a cidade já em 1920 se preparava para investir ainda mais em infraestrutura para carros. Na década de 1940, logo depois da Segunda Guerra Mundial, os bondes ainda eram maioria nas ruas, mas os governantes notaram que o número de carros só crescia, fazendo com que os motoristas rodassem pelas ruas em busca de vagas de estacionamento que eram muito poucas, gerando engarrafamentos mesmo que apenas por esse motivo. A solução óbvia das autoridades foi exigir uma quantidade de estacionamentos para todos as edificações comerciais ou residenciais que fossem construídas, foi o inicio do “estacionamento mínimo”, tema que já abordamos algumas vezes aqui no site, como nesse ou nesse outro post.
Muitos já parecem perceber os prejuízos dessas exigências que duram até hoje. Esses requisitos mínimos encarecem valor de compra e aluguel de edificações na cidade, além de inviabilizar muitos dos novos empreendimentos que são obrigados a reservar áreas gigantescas só para estacionamentos no lugar de um espaço que seria realmente útil para as pessoas.
Uma lei estadual foi aprovada no último ano abolindo esses mínimos de estacionamento em áreas onde existem pontos de transporte coletivo, parece um começo, mesmo que ainda tímido.