O erro de tentar fazer ruas que agradem a todos

Com a percepção da necessidade das cidades se atentarem para os benefícios do uso do transporte público, somado ao incentivo da locomoção por bicicletas ou a pé, muitos caíram no erro de tentar conciliar esses meios de transporte com o uso de automóveis – que por sinal ainda possuem a prioridade na maioria das cidades do mundo.

A tentativa de tentar transformar uma rua perfeita tanto para pedestres e ciclistas, quanto para carros, irá no fim frustrar a todos. O erro mais comum costuma ser a tentativa de deixar vias atraentes para os motoristas, mesmo com a presença constante de pedestres e ciclistas por perto. Pistas largas e retas parecidas com rodovias irão convidar os carros a atingirem velocidades altas como numa própria rodovia, mas esse convite tende a ser perigoso para todos – muito mais para os pedestres e ciclistas.

Do mesmo modo que ruas atrativas para se pedalar e caminhar devem permitir que as pessoas façam isso sem nenhum tipo de preocupação, – especialmente sobre aquelas que envolvem a dúvida sobre se serão atingidas por um carro, ou não. Ter uma via de alta velocidade próxima, com certeza pode ser perigoso nesse aspecto e ainda irá tirar todo o sentido que faz um local ser ideal para a caminhada e o ciclismo.

A ideia de sempre tornar os carros os donos da rua precisa ser superada, ao menos quando falamos de uma cidade saudável. A principal maneira de fortalecer áreas de comércio é garantindo que pessoas caminhem por ali, se não for possível eliminar totalmente a presença dos carros, que ao menos faça com que eles transitem em baixas velocidades.

Falando sobre baixas velocidades, essa certamente é uma medida simples, que costuma incomodar os motoristas, mas que garante resultados favoráveis concretos. Você já deve ter ouvido algum motorista reclamar da implementação de um novo radar que passou a multar aqueles que ultrapassam o limite de velocidade estabelecido, afinal “assim não dá para dirigir” ou “desse jeito fica devagar demais”. Essa simples ação está longe de ser a mais radical no que diz respeito a eliminar a presença de carros ou algo do gênero, mas já representa um enfrentamento ao “reinado dos carros” dentro das cidades, além de ser algo sustentado por dados, afinal não é difícil achar alguma reportagem comprovando a diminuição de mortes e acidentes graves nas vias em que foram instalados esses redutores de velocidade.

É natural encontrarmos centros comerciais que se desenvolveram ao redor de grandes vias, o desenvolvimento das cidades geralmente aconteceu desse modo, mas é preciso considerar que eram tempos diferentes com tráfego muito menor; se manter dessa forma é um atestado de continuar preso no passado. Ruas hostis para pessoas e muito favoráveis para carros geralmente não vão trazer movimento para o comércio que estão por ali. Talvez o caminho passe por atrair os pedestres e ciclistas para aquele local e afastar para outras vias os carros que não trazem nenhum tipo de benefício a localidade.

Já vimos que tentar agradar a todos nesse caso é impossível. Também temos experimentado por vários anos que tentar agradar prioritariamente os carros não têm gerado tantos resultados positivos. Talvez esse seja o momento de tentar agradar o outro lado.

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