Quando se fala em moradores de rua ou sem-teto, automaticamente a primeira pergunta que costuma ser feita é sobre qual tipo de situação ruim aconteceu com aquela pessoa. Se questiona se a pessoa é viciada em álcool ou algum tipo de droga ilícita, se ela foi expulsa de casa ou brigou com a família… Tratamos os motivos sempre na perspectiva das tragédias pessoais.
Porém quando paramos para analisar a questão de maneira mais profunda, sempre com auxílio de estudiosos do tema, como a da repórter Jerusalem Demsas do The Atlantic, ou do professor Gregg Colburn da Universidade de Washington e do cientista de dados Clayton Page Aldern, autores do livro “Homelessness Is a Housing Problem” “(A falta de moradia é um problema de moradia”, traduzindo para o português), podemos ver que os principais fatores para o surgimento de pessoas sem-teto são os mais óbvios: preços dos aluguéis e as taxas de moradias vazias.
Lógico que não podemos desprezar os motivos individuais em relação a esse quadro, alguns dos que se tornam sem-teto realmente possuem problemas graves relacionados ao mental, – inclusive muitos adquirem esses problemas após irem para as ruas. Entretanto, a teoria de que esses problemas mentais e a utilização de drogas são as principais causas para o problema dos sem-teto, não encontra respaldo entre os estudiosos. Usando exemplos da geografia americana, Utah, Alabama, Colorado, Kentucky, Vermont, Delaware e Wisconsin são alguns dos estados com as mais altas taxas de pessoas com doenças psicológicas do país, mas ao mesmo tempo possuem taxas bem inferiores de sem-teto em relação a outros estados. Por que isso acontece? É bem simples: esses estados proporcionalmente possuem mais opções de moradia.
Seguindo a mesma linha de pensamento, vemos cidades americanas com taxas de pobreza consideradas baixas, como Boston e São Francisco, mas altas taxas de pessoas sem moradia. Mais interessante do que isso: foi observado que cidades com fortes economias e baixos índices de desemprego ainda sim possuem taxas relativamente altas de sem-teto. Os pesquisadores dizem que isso acontece por conta da demanda de serviços e diversos tipos de trabalhadores que essas fortes economias acabam atraindo para suas cidades. A quantidade de pessoas atraídas por essa demanda acaba sendo muito grande, entretanto o mercado imobiliário acaba não funcionando dessa maneira: a construção de mais moradias não acompanha a quantidade de pessoas que chega, ao mesmo tempo que os preços de aluguéis e compra só fazem subir.
No Brasil essa teoria também pode ser confirmada, sabemos que as cidades com maior pujança econômica do país, como São Paulo e Rio de Janeiro são ao mesmo tempo as que possuem um maior número de pessoas vivendo nas ruas. Enquanto isso, alguns dos municípios com os maiores índices de pobreza do país não possuem a mesma taxa elevada de pessoas sem-teto.
Além dos que já estão literalmente morando nas ruas, outra preocupação é a quantidade de pessoas que estão no limite financeiro de acabarem parando na mesma situação. São aqueles que bastam um problema com0 a perda de um emprego, um divórcio ou problema de saúde para acabarem irem vivendo nas ruas. Um estudo liderado por um economista da Zillow – uma empresa americana do mercado imobiliário -, constatou que quando um número crescente de pessoas passa a gastar 30% ou mais de sua renda com aluguel, a taxa de pessoas sem moradia acaba aumentando.
Para tentar intervir nesse problema o poder público tem buscado agir em alguns casos, seja com a criação de taxas e impostos com o objetivo de diminuir a quantidade de imóveis vazios (como já falamos nesse outro post), ou investindo na construção de novas moradias, algo que acaba encontrando empecilhos, especialmente na lógica do mercado imobiliário que não vê o público de baixa renda como interessante financeiramente. Tentaremos futuramente abordar esse ponto em outros posts aqui no site.