Em 1997, a cidade de Bilbao, na Espanha, vivia uma série de problemas em sua economia e estava longe de fazer parte da rota dos destinos mais visitados pelos turistas. Foi aí que o arquiteto Frank Gehry mudou para sempre a história da cidade, e por que não, da arquitetura contemporânea. Nesse ano foi concluído o Museu Guggenheim Bilbao, uma edificação que passou a atrair uma grande quantidade de visitantes e mudou radicalmente a vida e a economia da cidade. Essa situação ficou conhecida por todos como o Efeito Bilbao.
O Museu Guggenheim chamou muita atenção por conta de sua originalidade arquitetônica: sua fachada com pedaços de titânio ondulados formam uma estrutura parecida com escamas de peixe, ao mesmo tempo que seu topo parece simular uma flor com suas pétalas. Sua vista através do rio também parece lembrar um barco, homenageando a cidade portuária de Bilbao.
Não é incomum vermos cidades passarem a receber um grande número de visitantes por conta da presença de uma grande atração turística, mas o termo não é conhecido como “Efeito Bilbao” por acaso. A cidade basca possuía altos níveis de pobreza, desemprego e seu forte passado industrial fez com que a cidade fosse construída com base em indústrias de construção naval e siderúrgicas. Muita coisa mudou após a construção do museu, a cidade renasceu economicamente, revitalizando também a arquitetura e o meio artístico local. Em 2017 foi feito um cálculo estimando que o museu gera cerca de 400 milhões de euros por ano para a economia local.
A ideia de uma grande edificação poder transformar toda uma cidade é incrível e certamente inspiradora, mas na maioria dos casos tem sido um problema.
Precisamos considerar que o caso de Bilbao tem muitas particularidades e por isso não pode ser comparado com os demais. A cidade deu a “sorte” de encontrar uma edificação única projetada por Frank Gehry, sua excentricidade foi perfeita e inovadora para aquele momento, mas muitos vem tentando replicar seu estilo sem sucesso nos tempos atuais. Tentar a mesma coisa que Gehry, não irá trazer o aspecto de novidade e muito provavelmente só irá inserir uma edificação totalmente desconectada e esquisita daquele ambiente inserido.
A grandiosidade da obra de Gehry despertou o sentimento de que se pode construir algo icônico e grandioso, mas a verdade é que nem todas as construções devem ser assim – afinal se todas as obras fossem icônicas, não existiria mais o comum e o próprio grandioso se tornaria o banal -, a busca pelo diferente acabou se tornando uma guerra de egos sem nenhum sentido para a sociedade.
A busca pela atemporalidade por si só afasta a arquitetura das reais necessidades cotidianas, centrando a experiência em algo puramente estético, mas sem nenhuma utilidade para as pessoas em seus dia a dias, correndo o sério risco de transformar aquela edificação que buscava ser grandiosa em um grande “elefante branco” – termo usado para algo que custou muito dinheiro, mas acabou abandonado por não ter nenhuma utilidade prática.
Por mais espetacular que seja o “efeito Bilbao”, o entendimento de seu contexto e de suas particularidades é a chave para afastar o ridículo e o inútil.
Como bem definiu a arquiteta Jeanne Gang, diretora do Studio Gang:
“Seria terrível viver em um mundo cheio de arquitetura banal, mas seria igualmente terrível se todos os prédios gritassem por atenção”.