A chamada Visão Zero (Vision Zero) é uma campanha internacional que busca a segurança no trânsito, eliminando completamente todas mortes e lesões graves que acontecem nas vias.
Muitas cidades então passaram a se a autoproclamarem “cidades de visão zero”, dando a impressão desse titulo ter se tornado algo mais nominal do que realmente concreto. A repórter Angie Schmitt, da Boomblerg, relata que quando trabalhava no Streetsblog, por volta dos anos 2018 e 2019, era muito difícil detectar com informações concretas quais cidades realmente tomavam atitudes quanto ao tema, ou não. Mesmo no período de auge da covid-19 as mortes no trânsito continuaram a subir nos EUA, fazendo com que muitos realmente duvidassem da importância que o poder público dava para o assunto.
Entretanto já é possível perceber avanços reais em cidades importantes. Um relatório do The International Transport Forum (Fórum Internacional de Transporte) mostra a diminuição das mortes no trânsito em 22 das grandes cidades que fizeram o compromisso do Visão Zero. A única cidade brasileira presente é a de Fortaleza, com uma impressionante diminuição de 40% nas mortes, enquanto a média em todo o Brasil foi de aproximadamente 14% de queda.
O relatório cita a capital cearense ao lado de Londres e Bogotá, como cidades que conseguiram controlar e diminuir a velocidade dos veículos, além de terem consigo criar mais e maiores espaços protegidos para pedestres e ciclistas. Fortaleza ainda implementou um interessante projeto de calçadas vivas, que consiste na pintura de calçadas e parte da rua para delimitarem espaços para pedestres utilizarem no lugar de carros, reduzindo a velocidade dos automóveis e por tabela o número de acidentes.
Se Fortaleza foi a única do Brasil na lista, vimos que Nova Iorque foi a única cidade americana presente entre as 22. Entre 2010 e 2020, as mortes no trânsito na cidade caíram 19%, enquanto a taxa de mortalidade nos Estados Unidos aumentou 8%.
O caso de Nova Iorque chama a atenção por ir na contramão do país: o aumento de SUVs e picapes é perceptível de forma nacional, acompanhados com o crescimento do número de mortes de pedestres em 62% desde 2009. A política nacional também não parece muito bem alinhada com a nova-iorquina, uma vez que a maior parte do dinheiro federal que vai para os estados é gasto com a construção de mais vias arteriais – onde 63% das mortes dos pedestres acontecem.
Mesmo com todos esses fatores jogando contra, Nova Iorque vem desenvolvendo uma cultura diferente do restante do país: apenas 50% dos domicílios da cidade possuem um carro. Recentemente também foi aprovada uma lei que permitirá que câmeras de controle de velocidade e radares funcionem em vários pontos da cidade 24 horas por dia.
Certamente um exemplo para todos os Estados Unidos, já que outras cidades que se proclamaram Visão Zero como Washington, Seattle e Portland, continuam tendo o aumento das mortes no trânsito – essa última tendo o maior número desde 1990.