Cansados da caótica vida de longos congestionamentos e dependência de carros, muitos estão se interessando por um novo tipo de empreendimento voltado para uma locomoção mais “caminhável” e menos voltada para automóveis.
Muitas construtoras já perceberam a dificuldade em fazer certos tipos de empreendimentos por conta de restrições de zoneamento que impõem uma quantidade obrigatória de vagas para carros. Recomendamos algumas leituras sobre o tema aqui no blog, como esse sobre os benefícios do fim da obrigatoriedade para vagas de estacionamento.
A exigência de vagas para estacionamentos muitas vezes tornam certos tipos de construções inviáveis e um grande desperdício no aproveitamento da área construída.
Com isso três fatores têm sido fundamentais para essa mudança que vem ocorrendo em novas construções e acabam beneficiando a vida caminhável: a nova mentalidade das construtoras; as mudanças de zoneamento pelos municípios; e os investimentos em outras formas de transporte.
Na cidade de Tempe, Arizona, nos Estados Unidos, podemos identificar todos esses fatores. Um novo conjunto de apartamentos chamado Culdesac, tem sido desenvolvido desde o final de 2019 com previsão para término esse ano. O novo empreendimento terá apartamentos de tamanho médio para habitação, espaços comerciais no térreo e nenhum estacionamento para carro.
Para a construção ser possível as regras de zoneamento foram mais flexíveis, eliminando a exigência de estacionamentos, além de coincidir com a popularização de novas opções de transporte, como bicicletas elétricas e e-scooters.
Em Charlotte, Carolina do Norte, também nos EUA, um outro edifício residencial chamado The Joinery foi inaugurado recentemente contendo 83 apartamentos e nenhuma vaga de estacionamento. Todas as unidades foram rapidamente alugadas, muito por conta de iniciativas da prefeitura, como a expansão do metrô e uma série de reformas urbanas voltadas mais para o transporte público e menos para carros. Charlotte em breve também deve ter uma torre residencial com 104 apartamentos, mas com o foco em infraestrutura para bicicletas, e não para automóveis. O projeto chamado CYKEL, prevê um centro de ciclismo no térreo com um espaço para conserto de bicicletas.
Logicamente razões econômicas também estão por trás desses novos tipos de empreendimentos. O custo de se ter um carro vem aumentando não só no Brasil, mas em todo o planeta. Além do preço médio para se adquirir um veículo ter aumentado muito, custos com combustível e a própria manutenção do veículo também decolaram, especialmente quando em comparação com o ganho médio da população em geral, que não acompanhou a subida. Para as construtoras a não exigência de estacionamentos também tornam as obras mais baratas. Segundo pesquisa da construtora WGI, o custo médio para construir uma estrutura de estacionamento nos EUA foi de 25.700 doláres por vaga em 2021.
No Brasil já tivemos incentivos da prefeitura de São Paulo para edificações semelhantes serem possíveis. Em áreas próximas de estações de metrô e corredores de ônibus já era possível construir sem precisar de muitas vagas para estacionamentos, porém a atual administração da cidade infelizmente parece estar revendo essa política, como já abordamos nesse post.
Mesmo os Estados Unidos não sendo uma referência no que diz respeito a mobilidade urbana especialmente quando comparamos com as cidades europeias, essas medidas citadas nos indicam um caminho a se seguir. Tais exemplos nos mostram que ao oferecer uma boa infraestrutura para se caminhar, pedalar, em conjunto com o fortalecimento do transporte público, deixar de usar carros passa longe de ser um sacrifício.