A pauta da mobilidade urbana trouxe nos últimos anos a necessidade de as cidades repensarem a forma como organizam seus meios de transporte, considerando por exemplo, as bicicletas como parte importante para a locomoção de pessoas sem gerar prejuízos para a cidade e para o meio-ambiente.
Passamos a ver cidades de todo o mundo anunciando a criação de ciclovias e ciclofaixas, algo certamente positivo, mas muitas apresentando isso como a solução milagrosa para resolver todos os problemas de mobilidade e ainda por cima buscando ganhar status de cidades modernas e atualizadas.
Porém, sabemos que os problemas da mobilidade urbana possuem uma complexidade que não pode ser resolvida simplesmente com a adoção de uma única ação. Já vimos em outro POST um estudo revelando que ciclovias com proteção e separadas das vias para automóveis são muito mais seguras do que as ciclovias sem nenhum tipo de separação ou barreira de proteção. Após 13 anos de análises, essas pesquisas concluíram que a instalação de ciclovias protegidas reduziu em 44% o número de mortes e em 50% os acidentes graves nas cidades em que foram implementadas. Um dos realizadores do estudo chegou a afirmar que as ciclovias desprotegidas e apenas pintadas não melhoram a segurança dos ciclistas em absolutamente nada.
Em um outro POST também falamos sobre a cidade de Paris e o investimento buscando fortalecer sua rede cicloviária, porém na prática um grupo de ciclistas tem contestado a condição dessas ciclovias. O Collectif Vélo Île-de-France (Coletivo de Ciclismo Ilha-da-França), um grupo formado por 42 associações de ciclismo em Paris, avaliou itens como continuidade das ciclovias, capacidade de estacionamento e disponibilidade de bicicletas para aluguel, chegando a conclusões preocupantes: eles afirmam que em muitos locais o acesso por bicicleta é complicado, ou até mesmo impossível.
Daqui dois anos a capital francesa irá sediar os Jogos Olímpicos, e isso tem causado preocupação em relação a essa infraestrutura presente. O Parc des Expositions de Villepinte, que irá receber eventos de boxe, esgrima, pentatlo moderno e vôlei sentado, foi destacado pelo Coletivo como “simplesmente inacessível de bicicleta”. Os organizadores de Paris 2024 responderam dizendo que várias instalações de ciclismo ainda estão sem construídas e estarão prontas até o inicio dos jogos.
A verdade é que em nossas cidades brasileiras vemos que em muitos locais onde foram instaladas as ciclovias são praticamente inacessíveis para as bicicletas. Além da questão da segurança, onde a grande maioria dessas ciclovias não apresentam nenhum tipo de proteção, vemos que muitas são feitas em lugares inadequados para se pedalar, com subidas extremamente íngremes, curvas muito fechadas e em vias apertadas quase juntas com carros em altas velocidades.
Fica a impressão de que muitas vezes algumas administrações públicas implementam essas ciclovias de qualquer maneira, apenas pelo titulo de cidade preocupada com os ciclistas e com a mobilidade urbana, mas sem uma infraestrutura adequada contendo: inclusão de ciclovias protegidas, distantes de carros em altas velocidades, em locais mais planos e com incentivos para alugueis e estacionamento de bicicletas, essas medidas não irão passar de mero status, sem qualquer tipo de benefício real para os usuários de bicicleta e para a mobilidade urbana em geral de toda a cidade.